A LÍNGUA, O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
E A MANIPULAÇÃO DAS MASSAS
Lucas Mani Jordão
Nas últimas semanas fomos surpreendidos(?) com outra polêmica cunhada no seio da ignorância. Os grandes meios de disseminação de (des)informação nos bombardearam com críticas viscerais contra um livro didático, que supostamente “ensina as crianças a falar errado”. O livro em questão é o Por Uma Vida Melhor e faz parte da coleção Viver, Aprender, organizada pela Ação Educativa, uma ONG que há 16 anos promove debates e atua em projetos de melhoria da educação e políticas para a juventude. Seus autores são Heloísa Ramos, Cláudio Bazzoni e Mirella Cleto. Os três, professores de língua portuguesa, autores de livros didáticos e estudiosos do tema variação lingüística.
Há uma diferença substancial entre a gramática, defensora das regras “atemporais” e “cultas” da língua “padrão”, e a realidade essencialmente mutante e temporal da língua. A compreensão de que a língua “padrão” é apenas UMA forma de se expressar e não A forma por excelência deveria fazer parte do rol de conhecimento de muitos pretensos jornalistas, bem como as noções mínimas de língua e linguagem.
Ao levar para a sala de aula o tema de variação lingüística, MEC e professores estão conectados com os estudos da lingüística que, diferentemente da engessada gramática descritiva, refletem sobre uma perspectiva inclusiva, de modo a eliminar o preconceito lingüístico, que surge da idéia de que existe somente uma única e eterna forma correta de se expressar. Quando, porém, nos damos ao trabalho de ler o “satanizado” livro didático (Clique aqui para ler), a perplexidade diante do jornalistas que esbravejaram contra ele é ainda maior.
Não nos iludamos, a repercussão sem fundamento desse assunto, feita por marionetes ignorantes, não tinha como objetivo levantar um debate sobre as atuais condições da educação no Brasil, fosse essa a intenção teríamos, invariavelmente, que levar em consideração números como esses: aproximadamente um milhão e trezentas mil crianças matriculadas em escolas entre 8 e 14 anos de idade não sabem ler nem escrever. Clique aqui para ler mais. O que se desejava com essa “polêmica”, mais uma vez, era desviar o foco do assunto em pauta no congresso que tinha REAL importância: O Novo Código Florestal Brasileiro que, na prática, impulsiona a expansão destrutiva do agro-negócio pela Floresta Amazônica.
Prova disso é que aprovado o nefasto código pelo congresso a discussão sobre o “livro que ensina crianças a falar errado” desapareceu, assim como outros assuntos, tais como o brado homofônico/fundamentalista contra o material didático que visava auxiliar educadores a combater a homofobia, fascistamente apelidado de “kit Gay”.
Todo o aparato técnico/ideológico do capital é mobilizado para a manipulação de massas; a indústria cultural solapa a capacidade cognitiva das pessoas; enquanto nos ocupamos com discussões inócuas sustentadas pela “grande mídia”, o capital segue seu curso de destruição livremente visando lucrar com a transformação de florestas em pastos, plantações de soja, milho ou cana, mineradoras, hidrelétricas (para gerar energia para a indústria); de seres humanos em gado e do lindo planeta azulzinho em uma imensa bola morta, perdida no espaço.
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