PELA DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS
“Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação.” (Guy Debord – A Sociedade do Espetáculo)
Guerra às drogas?
A chamada “guerra às drogas”, declarada na década de 1970 pelo então presidente norte americano Richard Nixon, soma-se às infindáveis guerras imperialistas com as quais os EUA tiranizam o mundo. E como suas homônimas, essa war esconde sob o véu de um discurso hipócrita e moralista interesses escusos de controle econômico e social: lucros obscenos através da lavagem de dinheiro (leia mais aqui), mecanismos de desestabilização e controle (leia mais aqui) ou mesmo meios de aumentar a exploração sobre seus próprios cidadãos (leia mais aqui).
Quatro décadas depois, cerca de um trilhão de dólares gastos no combate ao tráfico (Imagine só o lucro obtido com os entorpecentes nesses 40 anos!!!), mais de quarenta milhões de pessoas presas (isso só nos EUA), um inimaginável número de mortos e as drogas hoje são muito mais baratas, potentes e difundidas (leia mais aqui).
O espetáculo da violência
O antagonismo de uma sociedade que impõe a busca da satisfação individual como objetivo supremo de vida ao mesmo tempo em que proibi algumas substâncias que causam prazer, se relaciona diretamente com a inversão ideológica da realidade que “transforma” sintomas em causas, com o intuito óbvio de ocultar as verdadeiras causas: o combate ostensivo ao tráfico, à violência dele decorrente e ao usuário oculta a verdadeira raiz das atrocidades cometidas em nome das drogas: sua proibição.
As drogas ilegais (apesar da repressão), do mesmo modo que as legais (cigarro, álcool, refrigerantes, snacks, etc.) são vendidas e consumidas em todo mundo (em cada esquina de cada cidade), enquanto o discurso oficial defende a repressão violenta da ilegalidade a realidade cotidiana demonstra que legais ou não, as drogas circulam livremente – ironicamente, os usuários de crack utilizam latinhas (de refrigerante ou cerveja...) como cachimbos para consumir a pedra, numa triste alegoria da política atual. A inevitável pergunta (ingênua, mas necessária) é: Por que umas são “legais” e outras não? A resposta é que as drogas ilegais se desenvolvem livres de qualquer tipo de fiscalização ou controle, fazendo a alegria de banqueiros, que enchem os bolsos lavando seu dinheiro sujo de sangue, e de governos (financiados pelos mesmos banqueiros) que tem interesse em expandir seus tentáculos de dominação. Assim, o paradoxo legal/ilegal sustenta interesses estratégicos de manipulação sádica, invertendo a realidade e encenando uma farsa de terror e medo que oculta o verdadeiro terrorismo e tudo o que realmente deveríamos temer. A violência em torno do tráfico, portanto, não surge das condições ilegais de produção e comercialização das drogas, é, antes, o mecanismo pelo qual elas são mantidas na ilegalidade.
Descriminalizar e educar
É claro que o livre comércio de crack em bares, farmácias e supermercados não é, nem de longe, uma solução viável (basta observarmos o nefasto lobby do cigarro) e, como já vimos, o combate ao tráfico e ao usuário também não é.
O desafio aqui é tirar o foco do falso paradoxo legal/ilegal que implica na utilização da força de repressão policial, e colocá-lo sobre os horizontes da autodeterminação, emancipação, educação e saúde.
A autodeterminação dos indivíduos (que nos é tolhida pelo sistema democrático/burguês do capital) é fundamental para a desconstrução da ideologia hegemônica, pois propicia a emancipação (alforria) da sociedade. Isso, porém, só é possível através de uma educação libertadora que forme seres humanos críticos e conscientes capazes de se autodeterminar (o que não é possível sem a eliminação das atuais formas de produção). Por fim, é a saúde e não a polícia que deve encabeçar o combate ao uso de drogas, através de intensos trabalhos de esclarecimento, conscientização e tratamentos (desintoxicação e reabilitação) que englobem toda a sociedade. Nós temos o direito de conhecer os efeitos (bons e ruins) de TODAS as drogas (legais e ilegais), assim como de utilizá-las ou não.
Sob esse prisma a descriminalização das drogas passa a ser o método mais eficaz no combate ao seu impacto social, aliando esclarecimento, conscientização e apoio (tratamento) à liberdade, em contraste com a forma mentirosa, assassina e opressora que vigora atualmente.
Lucas Mani Jordão
"A violência em torno do tráfico, portanto, não surge das condições ilegais de produção e comercialização das drogas, é, antes, o mecanismo pelo qual elas são mantidas na ilegalidade." Interessante abordagem! Na verdade, vejo aí uma relação dialética, em que uma alimenta a outra (violência e proibição).
ResponderExcluirConcordo com você. Leia meu artigo "o tráfico mata muito mais que as drogas" no jornal de debates (http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/maconha-deve-ser-liberada/artigo/tr-fico-mata-muito-mais-que-as-drogas/11247).
Abraço!