4 de mar. de 2012

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A BANCADA CAVERNÍCOLA DE PINDORAMA
“...O ideal está em se obter uma maioria de escravos, com a ajuda de uma minoria de mortos bem escolhidos. Hoje, a técnica está aperfeiçoada. Eis por que, após matar e aviltar a quantidade de homens que era preciso, colocamos povos inteiros de joelhos. Nenhuma beleza, nenhuma grandeza nos resistirá. Triunfaremos de tudo...”
(Estado de Sítio – Albert Camus)
A Democracia Representativa é complexa e merece uma observação mais atenta. Há no processo democrático o pressuposto de que o voto direto é a melhor maneira de escolhermos nossos próprios tiranos. Não quero dizer, de modo algum, que a famigerada ditadura (sistema de governo onde não podemos escolher nossos tiranos) seja melhor. Claro está que o voto popular pode abrir uma lacuna no projeto escravizador de nossa atual idade das trevas, deixa um resto de esperança de que, talvez, a maioria possa efetivamente se emancipar e se autogovernar. Porém, a manipulação mediática, o poder do lobby, as pressões das minorias abastadas, as leis injustas (que são a maioria), a idiotização e infantilização de toda a sociedade acabam por transformar a democracia num teatro de ilusões, um ritual carnavalizado onde os atores que se sucedem periodicamente representam o mesmo papel.
Nas democracias somos todos iguais, só que uns são mais iguais que os outros.
Caso exemplar é o lobby pré-histórico no congresso da República Elitista de Pindorama, a chamada Bancada Cavernícola. Preconceituosos, raivosos, intransigentes e autoritários os hominídeos urram no congresso, vociferando a necessidade de imposição de leis que tornem Pindorama um país homogêneo onde o diferente seja suprimido. Munidos de tacapes verbais, vestindo peles de hipócritas e utilizando um discurso que poderia muito bem ser enquadrado como fascista, apresentaram um projeto de lei que visa legalizar a “cura gay(leia aqui).
Agitando as tábuas das leis das selvas e sonhando com um Pindorama que se pareça com a sociedade que Platão refletiu em seu Mito da Caverna, os pré-históricos parlamentares insistem que o fato de um indivíduo desejar sexualmente outro do mesmo sexo configura um quadro patológico de possessão demoníaca e, portanto, pode e deve ser curado (exorcizado). Seus curandeiros, corre à boca miúda, já identificaram o vírus/demônio da homossexualidade e temem que uma epidemia assole Pindorama.
Tratar o amor humano como doença, extirpá-lo como um câncer em nome da moral, da propriedade e da família: eis a lógica odiosa dos homens das cavernas.
O UGA-BUGA da extrema direita
No púlpito de seus templos, através das profundezas escuras de palavras distorcidas, curandeiros inflamam os peitos dos seus fiéis com o preconceito mais vil, o ódio ao diferente e o autoritarismo truculento. Manipulam hordas de eleitores para tomarem o poder através do processo democrático. Uma vez lá instalados apressam-se em acender as fogueiras santas da inquisição para queimar vivo quem ouse defender pontos de vista considerados heréticos (descriminalização das drogas e do aborto, direitos homossexuais, etc...), paralizando o debate político de Pindorama, transformando-o num uga-buga demagógico e violento.
A retórica da extrema direita visa despertar o que há de mais vil no ser humano, nossas intolerâncias mais egocêntricas, é daí que extraem sua força. Ao mobilizar o que temos de pior para alçar ao poder, os cavernícolas explicitam a farsa democrática que empesteia as repúblicas por todo o mundo. O séc. XXI demanda urgentemente uma profunda análise sobre a realidade das democracias, é preciso desconstruí-las para criar um novo sistema mais justo, mais humano e menos hipócrita.
Lucas Mani Jordão

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