A BANCADA CAVERNÍCOLA DE PINDORAMA
“...O ideal está em se obter uma maioria de escravos, com a
ajuda de uma minoria de mortos bem escolhidos. Hoje, a técnica está
aperfeiçoada. Eis por que, após matar e aviltar a quantidade de homens que era
preciso, colocamos povos inteiros de joelhos. Nenhuma beleza, nenhuma grandeza
nos resistirá. Triunfaremos de tudo...”
(Estado de
Sítio – Albert Camus)
A
Democracia Representativa é complexa e merece uma observação mais atenta. Há no
processo democrático o pressuposto de que o voto direto é a melhor maneira de
escolhermos nossos próprios tiranos. Não quero dizer, de modo algum, que a
famigerada ditadura (sistema de governo onde não podemos escolher nossos
tiranos) seja melhor. Claro está que o voto popular pode abrir uma lacuna no
projeto escravizador de nossa atual idade das trevas, deixa um resto de
esperança de que, talvez, a maioria possa efetivamente se emancipar e se
autogovernar. Porém, a manipulação mediática, o poder do lobby, as pressões das
minorias abastadas, as leis injustas (que são a maioria), a idiotização e
infantilização de toda a sociedade acabam por transformar a democracia num
teatro de ilusões, um ritual carnavalizado onde os atores que se sucedem
periodicamente representam o mesmo papel.
Nas democracias somos todos iguais, só que uns são
mais iguais que os outros.
Caso exemplar é o lobby
pré-histórico no congresso da República
Elitista de Pindorama, a chamada Bancada
Cavernícola. Preconceituosos, raivosos, intransigentes e autoritários os
hominídeos urram no congresso, vociferando a necessidade de imposição de leis
que tornem Pindorama um país homogêneo onde o diferente seja suprimido. Munidos
de tacapes verbais, vestindo peles de hipócritas e utilizando um discurso que
poderia muito bem ser enquadrado como fascista, apresentaram um projeto de lei
que visa legalizar a “cura gay” (leia aqui).
Agitando as tábuas das
leis das selvas e sonhando com um Pindorama que se pareça com a sociedade que
Platão refletiu em seu Mito
da Caverna, os pré-históricos parlamentares insistem que o fato de um indivíduo
desejar sexualmente outro do mesmo sexo configura um quadro patológico de
possessão demoníaca e, portanto, pode e deve ser curado (exorcizado). Seus
curandeiros, corre à boca miúda, já identificaram o vírus/demônio da
homossexualidade e temem que uma epidemia assole Pindorama.
Tratar
o amor humano como doença, extirpá-lo como um câncer em nome da moral, da
propriedade e da família: eis a lógica odiosa dos homens das cavernas.
O UGA-BUGA da extrema direita
No púlpito de seus
templos, através das profundezas escuras de palavras distorcidas, curandeiros
inflamam os peitos dos seus fiéis com o preconceito mais vil, o ódio ao
diferente e o autoritarismo truculento. Manipulam hordas de eleitores para
tomarem o poder através do processo democrático. Uma vez lá instalados apressam-se
em acender as fogueiras santas da inquisição para queimar vivo quem ouse
defender pontos de vista considerados heréticos (descriminalização das drogas e
do aborto, direitos homossexuais, etc...), paralizando o debate político de
Pindorama, transformando-o num uga-buga demagógico e violento.
A
retórica da extrema direita visa despertar o que há de mais vil no ser humano,
nossas intolerâncias mais egocêntricas, é daí que extraem sua força. Ao
mobilizar o que temos de pior para alçar ao poder, os cavernícolas explicitam a
farsa democrática que empesteia as repúblicas por todo o mundo. O séc. XXI
demanda urgentemente uma profunda análise sobre a realidade das democracias, é
preciso desconstruí-las para criar um novo sistema mais justo, mais humano e
menos hipócrita.
Lucas Mani Jordão
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