SUBSTITUIR A PROPRIEDADE PRIVADA PELA PROPRIEDADE COLETIVA
O texto
abaixo foi lido no dia 09/04/2012, por ocasião de um encontro ecumênico em
comemoração aos 105 anos da E. E. Otoniel Mota. A platéia era composta
majoritariamente por alunos de idades variadas, alguns professores, ex-alunos e
convidados, além dos representantes das religiões Indígenas, Africanas, Hindu,
Judaica, Católica, Presbiteriana, Espírita e eu, que fui representante do
ateísmo ou da não religião. Após a leitura fui cercado por crianças que me
cumprimentavam, elogiavam o texto, puxavam conversas sobre música, cheguei
mesmo a dar-lhes a cópia do texto. Não posso negar que, dado o conteúdo das
palavras abaixo, foi espantoso, comovente e inspirador a reação das crianças.
*****
Boa
tarde. É com muita alegria e com o coração aberto que encaro a enorme
responsabilidade de representar a não religião em um encontro ecumênico. Os 105
anos do Colégio Otoniel Mota muito nos devem orgulhar, principalmente por
tratar-se de uma escola pública. As palavras são poderosas, podem tanto
iluminar quanto obscurecer a visão, espero que as que seguem possam ser fonte
de luz.
Nossa
mãe Terra nos transcende, é divina, sagrada... O planeta que nos gerou e nos
abriga está em nós, nos é e nos ultrapassa. Assim como Terra carrega em si a
força criadora do primeiro bóson que permeia todo o universo, também nós somos
feitos da mesma matéria que os sóis, as galáxias, as pedras, as aves ou as
árvores.
Vivemos
uma mudança de época, que implica em uma mudança de paradigmas, de ideias e
hábitos... E a educação tem papel fundamental na criação desse Novo, pois é
através da educação que transmitimos de geração em geração o Todo acumulado
pela história da humanidade, que envolve o desenvolvimento cognitivo e
emocional, a consciência de tudo o que é humano e do que nos transcende.
O que
pensamos ou fazemos, tudo aquilo que somos, essencialmente, é resultado da
epopéia humana e de toda a história do universo. Somos, hoje, a evolução da
humanidade e parte da evolução do cosmos.
Um
médico nada saberia não fosse todos os que se dedicaram à medicina antes dele,
assim como um músico, um mecânico, um poeta, um padeiro, um professor... Mesmo
a língua que usamos para comunicar e exprimir nossos mais íntimos sentimentos
nos foi legada por aqueles que antes de nós a criaram e desenvolveram.
Nosso
tempo clama por mudanças, e uma das mais corajosas e urgentes é a substituição da
propriedade privada pela propriedade coletiva. Corajosa, pois implica em vencer
nosso egoísmo, nossa vaidade, em nos desapegarmos da forte ilusão de posse que
nos entorpece a mente; urgente, pois o sistema capitalista concentra tudo nas
mãos de uns poucos jogando a maioria da humanidade na miséria, matando de fome
milhares de crianças todos os anos, destruindo o meio ambiente e levando várias
espécies à extinção, tudo para saciar a obscena sede de acumulação privada.
Ninguém
tem o direito de tomar para si o que pertence a todos, e tudo o que existe na
Terra pertence a Todas as formas de vida. Ao acumularmos nos centramos em nosso
próprio ego, excluímos o outro de nossas vidas, deixamos de praticar a empatia
e nos tornamos escravos daquilo que acreditamos possuir.
É
difícil a tarefa com a qual nos confrontamos: substituir a opressão pela
liberdade, o preconceito pelo respeito ao diferente, a competição pela ajuda, a
divisão pela união, a acumulação pela partilha, o privado pelo coletivo, mas
conseguiremos, pois tudo que necessitamos é de amor: amor pelo sangue do
universo que corre em nossas veias, amor por todos os homens que caminharam
sobre a terra e nos conduziram até aqui hoje, amor por aqueles que ainda virão,
amor pela vida. Obrigado.
Lucas Mani
Jordão
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