12 de abr. de 2012

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SUBSTITUIR A PROPRIEDADE PRIVADA PELA PROPRIEDADE COLETIVA
O texto abaixo foi lido no dia 09/04/2012, por ocasião de um encontro ecumênico em comemoração aos 105 anos da E. E. Otoniel Mota. A platéia era composta majoritariamente por alunos de idades variadas, alguns professores, ex-alunos e convidados, além dos representantes das religiões Indígenas, Africanas, Hindu, Judaica, Católica, Presbiteriana, Espírita e eu, que fui representante do ateísmo ou da não religião. Após a leitura fui cercado por crianças que me cumprimentavam, elogiavam o texto, puxavam conversas sobre música, cheguei mesmo a dar-lhes a cópia do texto. Não posso negar que, dado o conteúdo das palavras abaixo, foi espantoso, comovente e inspirador a reação das crianças.
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Boa tarde. É com muita alegria e com o coração aberto que encaro a enorme responsabilidade de representar a não religião em um encontro ecumênico. Os 105 anos do Colégio Otoniel Mota muito nos devem orgulhar, principalmente por tratar-se de uma escola pública. As palavras são poderosas, podem tanto iluminar quanto obscurecer a visão, espero que as que seguem possam ser fonte de luz.
Nossa mãe Terra nos transcende, é divina, sagrada... O planeta que nos gerou e nos abriga está em nós, nos é e nos ultrapassa. Assim como Terra carrega em si a força criadora do primeiro bóson que permeia todo o universo, também nós somos feitos da mesma matéria que os sóis, as galáxias, as pedras, as aves ou as árvores.
Vivemos uma mudança de época, que implica em uma mudança de paradigmas, de ideias e hábitos... E a educação tem papel fundamental na criação desse Novo, pois é através da educação que transmitimos de geração em geração o Todo acumulado pela história da humanidade, que envolve o desenvolvimento cognitivo e emocional, a consciência de tudo o que é humano e do que nos transcende.
O que pensamos ou fazemos, tudo aquilo que somos, essencialmente, é resultado da epopéia humana e de toda a história do universo. Somos, hoje, a evolução da humanidade e parte da evolução do cosmos.
Um médico nada saberia não fosse todos os que se dedicaram à medicina antes dele, assim como um músico, um mecânico, um poeta, um padeiro, um professor... Mesmo a língua que usamos para comunicar e exprimir nossos mais íntimos sentimentos nos foi legada por aqueles que antes de nós a criaram e desenvolveram.
Nosso tempo clama por mudanças, e uma das mais corajosas e urgentes é a substituição da propriedade privada pela propriedade coletiva. Corajosa, pois implica em vencer nosso egoísmo, nossa vaidade, em nos desapegarmos da forte ilusão de posse que nos entorpece a mente; urgente, pois o sistema capitalista concentra tudo nas mãos de uns poucos jogando a maioria da humanidade na miséria, matando de fome milhares de crianças todos os anos, destruindo o meio ambiente e levando várias espécies à extinção, tudo para saciar a obscena sede de acumulação privada.
Ninguém tem o direito de tomar para si o que pertence a todos, e tudo o que existe na Terra pertence a Todas as formas de vida. Ao acumularmos nos centramos em nosso próprio ego, excluímos o outro de nossas vidas, deixamos de praticar a empatia e nos tornamos escravos daquilo que acreditamos possuir.
É difícil a tarefa com a qual nos confrontamos: substituir a opressão pela liberdade, o preconceito pelo respeito ao diferente, a competição pela ajuda, a divisão pela união, a acumulação pela partilha, o privado pelo coletivo, mas conseguiremos, pois tudo que necessitamos é de amor: amor pelo sangue do universo que corre em nossas veias, amor por todos os homens que caminharam sobre a terra e nos conduziram até aqui hoje, amor por aqueles que ainda virão, amor pela vida. Obrigado.
Lucas Mani Jordão

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