A porção de amor de Oberon (O sonho novo de uma noite de verão)
Cena XV (Oberon
e Puck a parte; Helena, Lisandro e Demétrio)
Lisandro: Por que imaginas que só para
ridicularizar-te que peço teu amor? A brincadeira e a diversão nunca têm
lágrimas nos olhos. Tudo em mim traz a selo da boa fé. Como pode trazer nele
sinais de desprezo?
Helena: Continua tua pérfida com sumo
talento. Essas homenagens pertencem a Hérmia. Renuncias a ela? A homenagem que
lhe tributas e a que me oferecem agora, posta uma e outra nos braços da
balança, têm igual peso: as duas são tão leves como fábulas.
Lisandro: Havia perdido a razão quando lhe
jurei amor.
Helena: Não, tu a perdeste agora que a
abandonaste.
Lisandro: Demétrio a ama, e não te ama.
Demétrio (acordando):
Ó helena, Deusa perfeita! Como são tentadores teus lábios, cereja madura para o
beijo! Deixe-me beijar essa maravilha de alvura.
Helena: Que inferno! Todos querem fazer de
mim objeto de vossos divertimentos. Se fosses homem não me insultariam assim.
Uni-vos para ridicularizar-me. Fazerem-me juramentos e exaltarem-me além de
meus méritos, quando estou certa de que me odiais de todo coração! São rivais
no amor por Hérmia e rivalizais em ardor para insultar-me. Sublime façanha.
Lisandro: Teu proceder é pouco generoso,
Demétrio. Cessa de assim agir, já que amas Hérmia. Não o ignoro, bem sabeis, e
aqui declaro que com toda a sinceridade que renuncio em teu favor, a todos os
meus direitos ao amor de Hérmia. Renuncia em meu favor a toda pretensão ao amor
de Helena, a quem amo e amarei até a morte.
Helena: Nunca vi tamanha falsidade.
Demétrio: Lisandro, fica com tua Hérmia; eu
não a quero. Se algum dia eu a amei, todo esse amor se desvaneceu. Meu só teve
nela como um conviva. Agora voltou-se à Helena para fixar-se eternamente.
Lisandro: Helena não é verdade.
Demétrio: Não procure diminuir sentimentos
que não conheces, ou teme pagar caro a audácia... ai vem tua amada.
(entra Hérmia)
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