Realidade Perdida
Tom
estava no quarto olhando para o teto; via nele as estrelas escondidas. No teto
branco imaginava o cosmo sobre suas vidas. Suas vidas...
Mas
vida de quem?
Lembrou-se
então da semana passada quando feliz estava por ter conseguido o emprego que
sempre sonhara.
Você
começa amanhã! – disse com ênfase o gerente do setor de produção da “grande
empresa grande” da cidade.
Amanhã
começa minha vida nova, pensava consigo, tudo que sempre quis, agora
realizarei.
Seus
sonhos não eram muitos: queria um lugar para viver, roupas para vestir, um
transporte próprio para ir e vir.
A vida
agora seria outra…
Acordou
ainda antes do sol nascer, não queria se atrasar; pegou duas conduções, as duas
cheias.
O dia
passou rápido; a empolgação não o deixara olhar para o relógio.
Chegou tarde em casa, pois tinha perdido a
conexão no terminal de ônibus. Mas ainda assim, com um sorriso de orelha a
orelha.
Sua mãe
percebeu seu cansaço e ofereceu-lhe o jantar; não respondeu, pois estava
dormindo. E num sorriso orgulhoso ela disse: meu filho é alguém.
A
semana passou; os dias iam iguais. Com o fim de semana se aproximando o sorriso
que aos poucos tinha sumido, voltou. O descanso merecido: todo trabalhador tem
direito de descansar, dizia consigo.
“Devido
ao grande sucesso de nossa empresa teremos que trabalhar neste fim de semana.
Lembrem-se: trabalhamos juntos crescemos juntos.”
Ele
tinha medo de sentir-se com raiva pela situação, pois iria ganhar mais. Porém,
feliz não estava.
“...
teremos que trabalhar (...) juntos...”.
O
paradoxo de seus sentimentos diminuiu quando soube, na segunda-feira, que seus
patrões passaram o fim de semana na Europa.
Ainda
no quarto imaginava seu futuro, baseado em seus colegas de empresa mais antigos:
os dias, as semanas, os meses, os anos passando. A vida, a mesma. De seus
sonhos apenas uma moto, mas o que o faria preso a esta situação por quarenta e
oito prestações.
Olhando
para auto lembrava-se de uma aula sobre o cosmo; o espaço é um vácuo cheio de
corpos celestes donde tem-se a provável origem de tudo. E o que é o vácuo? –
pensou concentrando-se na parede branca sem nada, e dormiu.
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