ENSINO
RELIGIOSO:
RETÓRICA
FUNDAMENTALISTA
Lucas Mani
Jordão
Em Setembro foi
divulgado pela imprensa (AQUI) que a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro,
contrariando o Conselho Municipal de Educação, aprovou a inclusão do “ensino
religioso” (eufemismo para lavagem cerebral) nas escolas do município. Agora,
aqui em Ribeirão Preto – São Paulo – circula entre os professores (informalmente)
que o governo pretende implantar o mesmo nas escolas estaduais.
Desnecessário dizer que
a laicidade do Estado é um dos maiores pilares da liberdade individual.
Igualmente desnecessário é trazer à luz a Constituição Brasileira. O que deve
ser elucidado aqui são os interesses que estão em jogo, ocultos nessa medida:
Demanda de grupos religiosos que financiam campanhas eleitorais, adestramento
das massas através da imposição de dogmas, padronização fundamentalista dos
indivíduos e a conseqüente eliminação de pensamentos e comportamentos
alternativos.
Uma das armas mais
eficazes do sistema do capital são as instituições religiosas que exercem um
poder “divino” sobre os fiéis, o que facilita muito a aceitação por parte
destes das contradições inerentes ao sistema. Contradições que surgem no
discurso religioso travestidas de eufemismos, metáforas e ordens que devem ser
acatas e não questionadas: mandamentos e leis sustentados
por uma leitura superficial, literal, tendenciosa, atemporal e anacrônica de “textos
sagrados”. A própria organização hierárquica das instituições religiosas é, em
si, uma clara demonstração do papel adestrador das igrejas que se autodenominam
porta-vozes de deus. Falam em nome do deus Mercado.
A ressurreição do “ensino
religioso” nas escolas públicas parece fazer parte de um projeto maior de
transmutar seres humanos em cordeirinhos sob a tutela do pastor financeiro. Uma
tentativa da ultra direita mega conservadora de reascender a chama do
fascismo.
Não sou contra o estudo
das religiões desde que algumas questões sejam bem esclarecidas como: por
que ensino religiosoe não História das Religiões?; todas as religiões
serão abordadas: africanas, latino americanas, orientais, islã, ect?; as
abordagens serão críticas ou apologéticas? Respondidas essas e outras questões
a inserção do estudo das religiões na grade curricular pública
poderia fazer parte de um projeto emancipador maior. Porém, diante dos
problemas de nossa escola pública, deliberadamente sucateada em prol do “projeto”
neoliberal, pensar na imposição dos dogmas religiosos aos alunos parece até
piada de mau gosto. A julgar pelo andar da carroça temo rever o filme de terror
da UDN: Família, Propriedade e “Valores” Religiosos.
Há um nefasto paralelo
entre as medidas de “austeridade” (para tentar contornar a crise financeira do
capital) que massacram portugueses, espanhóis, gregos e italianos e a volta do
ensino religioso às escolas públicas: em ambos os casos usam da retórica para
tentar nos convencer de que a solução para o problema é a aplicação sistemática
daquilo que o engendrou. Dito de outra forma: a solução para a crise causada
pela desregulamentação do mercado, exploração do trabalhador, super produção e
desperdício é mais desregulamentação, mais exploração, mais produção e mais desperdício;
assim, também a solução para a situação deplorável das escolas públicas,
destruídas pelo ultraconservadorismo neoliberal, é mais conservadorismo.
O fundamentalismo
neofascista argumenta que a matéria será optativa e que caberá aos pais
decidirem se os filhos irão ou não assistir as pregações. Pura retórica. Os
pais que professam alguma religião já a transmitem aos filhos que contam com
uma boa variedade de aulas de ensino religioso: catecismo, escolas dominicais,
grupos de jovens...
Um Estado que possui
uma religião oficial não pode ser chamado de democrático; um país cuja escola
pública não é laica não passa de uma ditadura. E não se enganem, esse é o
projeto dos neofascistas: transformar seus dogmas em leis e impô-los a todos os
outros cidadãos, perseguindo (torturando e matando quando for preciso) qualquer
um que pensar ou comportar-se de forma diferente. Lembram-se do material
didático que visava auxiliar os professores a combater a homofobia que foi
perseguido, atacado, proibido e (fascistamente) apelidado de Kit-Gay?
Temos que lutar por um
Estado laico e uma escola pública laica que eduque nossos filhos e netos para a
liberdade de pensamento, para a autodeterminação e emancipação. Às religiões
deve ficar reservado somente o espaço privado. Aos que quiserem educação
religiosa não faltam templos que servem exclusivamente para este fim.
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