1 de dez. de 2011

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ENSINO RELIGIOSO:
RETÓRICA FUNDAMENTALISTA
Lucas Mani Jordão
Em Setembro foi divulgado pela imprensa (AQUI) que a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, contrariando o Conselho Municipal de Educação, aprovou a inclusão do “ensino religioso” (eufemismo para lavagem cerebral) nas escolas do município. Agora, aqui em Ribeirão Preto – São Paulo – circula entre os professores (informalmente) que o governo pretende implantar o mesmo nas escolas estaduais.
Desnecessário dizer que a laicidade do Estado é um dos maiores pilares da liberdade individual. Igualmente desnecessário é trazer à luz a Constituição Brasileira. O que deve ser elucidado aqui são os interesses que estão em jogo, ocultos nessa medida: Demanda de grupos religiosos que financiam campanhas eleitorais, adestramento das massas através da imposição de dogmas, padronização fundamentalista dos indivíduos e a conseqüente eliminação de pensamentos e comportamentos alternativos.
Uma das armas mais eficazes do sistema do capital são as instituições religiosas que exercem um poder “divino” sobre os fiéis, o que facilita muito a aceitação por parte destes das contradições inerentes ao sistema. Contradições que surgem no discurso religioso travestidas de eufemismos, metáforas e ordens que devem ser acatas e não questionadas: mandamentos e leis sustentados por uma leitura superficial, literal, tendenciosa, atemporal e anacrônica de “textos sagrados”. A própria organização hierárquica das instituições religiosas é, em si, uma clara demonstração do papel adestrador das igrejas que se autodenominam porta-vozes de deus. Falam em nome do deus Mercado.
A ressurreição do “ensino religioso” nas escolas públicas parece fazer parte de um projeto maior de transmutar seres humanos em cordeirinhos sob a tutela do pastor financeiro. Uma tentativa da ultra direita mega conservadora de reascender a chama do fascismo.
Não sou contra o estudo das religiões desde que algumas questões sejam bem esclarecidas como: por que ensino religiosoe não História das Religiões?; todas as religiões serão abordadas: africanas, latino americanas, orientais, islã, ect?; as abordagens serão críticas ou apologéticas? Respondidas essas e outras questões a inserção do estudo das religiões na grade curricular pública poderia fazer parte de um projeto emancipador maior. Porém, diante dos problemas de nossa escola pública, deliberadamente sucateada em prol do “projeto” neoliberal, pensar na imposição dos dogmas religiosos aos alunos parece até piada de mau gosto. A julgar pelo andar da carroça temo rever o filme de terror da UDN: Família, Propriedade e “Valores” Religiosos.
Há um nefasto paralelo entre as medidas de “austeridade” (para tentar contornar a crise financeira do capital) que massacram portugueses, espanhóis, gregos e italianos e a volta do ensino religioso às escolas públicas: em ambos os casos usam da retórica para tentar nos convencer de que a solução para o problema é a aplicação sistemática daquilo que o engendrou. Dito de outra forma: a solução para a crise causada pela desregulamentação do mercado, exploração do trabalhador, super produção e desperdício é mais desregulamentação, mais exploração, mais produção e mais desperdício; assim, também a solução para a situação deplorável das escolas públicas, destruídas pelo ultraconservadorismo neoliberal, é mais conservadorismo.
O fundamentalismo neofascista argumenta que a matéria será optativa e que caberá aos pais decidirem se os filhos irão ou não assistir as pregações. Pura retórica. Os pais que professam alguma religião já a transmitem aos filhos que contam com uma boa variedade de aulas de ensino religioso: catecismo, escolas dominicais, grupos de jovens...
Um Estado que possui uma religião oficial não pode ser chamado de democrático; um país cuja escola pública não é laica não passa de uma ditadura. E não se enganem, esse é o projeto dos neofascistas: transformar seus dogmas em leis e impô-los a todos os outros cidadãos, perseguindo (torturando e matando quando for preciso) qualquer um que pensar ou comportar-se de forma diferente. Lembram-se do material didático que visava auxiliar os professores a combater a homofobia que foi perseguido, atacado, proibido e (fascistamente) apelidado de Kit-Gay?
Temos que lutar por um Estado laico e uma escola pública laica que eduque nossos filhos e netos para a liberdade de pensamento, para a autodeterminação e emancipação. Às religiões deve ficar reservado somente o espaço privado. Aos que quiserem educação religiosa não faltam templos que servem exclusivamente para este fim.

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