19 de out. de 2009

Primeirus excriptums

Aqui vai o primeiro conto que escrevi; logicamente já havia escrito coisas parecidas com contos durante minha vida estudantil em redações para escola. Porém este é o primeiro que fiz com a intenção de ser um conto. Confesso que não é lá grandes coisas, mas é meu.
Conto Primeiro
I
Normalmente, nas fazendas de mil oitocentos e alguma coisa tem senzalas e uma “casa central”; na senzala escravos e na casa os seus senhores. Correto?
A fazenda de que vou falar não é diferente.
Nas senzalas, apesar das condições precárias, os escravos tentavam manter suas crenças e tradições. Em uma dessas senzalas sobrevivia um senhor conhecido como “ancião José”, o mais velho de todos; era tão velho que não sabiam sua idade. Era ele o maior responsável por passar para as gerações que vinham as tradições de sua terra natal, pois era o único filho da África.
Ancião José tinha muitos “netos”; o mais forte deles era Joaquim. Tinha lá seus vinte anos e adorava as histórias de José; com elas se sentia livre. Ele nunca escondeu seus sentimentos pelos brancos:
– Os odeio! São todos ruins; nos prendem, nos maltratam, nos matam. Assim que puder fujo.
Na casa morava um jovem casal. Ele chamava-se Pedro e tinha vinte e três anos; ela chamava-se Elisa e tinha dezoito. Tinham ganhado a fazenda de presente de casamento.
Era um casal na medida do possível feliz; e como todos os brancos da época não gostavam de negros. Ela gostava menos ainda, pois seu pai havia sido morto por um negro fugitivo.
II
Num dia de outono, Elisa iria passar um fim de semana na casa de sua mãe. Porém o escravo que guiava o carro tinha caído doente.
– Precisamos de um escravo de confiança, disse Pedro.
– Nenhum negro é confiável, respondeu Elisa.
Pedro sabia que Joaquim era um rapaz destemido e inteligente; tinha facilidade em aprender e principalmente se destacava por ser um negro que questionava as suas condições. Já tinha ido para o tronco varias vezes; era uma ameaça para Pedro, pois mais cedo ou mais tarde poderia provocar uma fuga em massa. Para mantê-lo longe, mesmo por alguns dias, o obrigou a levar Elisa.      
Ainda no mesmo dia partiram; eram um pouco mais de uma da tarde. Joaquim nunca havia saído da fazenda, mas Pedro que não poderia ir, ensinou o caminho.
Chegando numa bifurcação teve dúvida de por onde seguir. Apesar de receoso perguntou a sinhazinha:
– A senhora que já deve ter vindo muito por aqui, deve saber o caminho, não sabe?
– Ora seu negro idiota! - disse ela - Não sou eu que tenho que saber estes detalhes; simplesmente quero chegar à casa de mamãe.
Mesmo com vontade de matá-la, ele seguiu o caminho que lhe pareceu mais correto.
III
Com o passar do tempo Joaquim percebeu que estava perdido numa floresta. Quando Elisa, também percebeu, começou a agredi-lo verbalmente: “nego” cretino, imundo e idiota. Ele tentou manter a calma, mas não conseguiu:
– Sua branquela nojenta! Se não ficar quieta não vou conseguir tirar a gente daqui!
Estava escurecendo e Joaquim achou melhor passar a noite no local para que de manhã pudessem encontrar o caminho de volta. Elisa, com toda prepotência, relutou – Onde já se viu uma sinhá dormir tão perto de um negro? – Mesmo assim tiveram que dormir lá; ela no carro e ele no chão.
Ao amanhecer, Elisa percebeu que Joaquim não estava perto dela; ficou com medo, mas logo ele apareceu trazendo o que comer.
– Ainda bem que trouxeste algo para comer, assim quem sabe te livras da chibata.
– E quem disse que é pra “vois micê”?
– Pois se tu não me alimentares mando-te a morte.
– Aqui “vois micê” não é nada; se quiser comer se arranje sozinha, ou então, espere e veja se sobra alguma coisa que peguei.
Antes de o sol chegar ao centro do céu, começaram uma “fuga” sem rumo.
IV
Passaram-se alguns dias e devido à situação inusitada os dois acabaram se aproximando e começaram a cuidar um do outro, mesmo que não admitissem para si mesmo.
Em busca por água aconteceu um acidente onde morreram os cavalos e perderam-se algumas das roupas dela. Isso fez com que finalmente se respeitassem:
– Agora vejo que estava errada - disse Elisa.
– Como assim? - indagou Joaquim.
– Nem todo negro é ruim.
– É. Também penso eu assim!
– Não entendi?
– Sempre pensei que um branco jamais poderia ser bom.
– Mas os brancos são bons e superiores.
– Bons? Superiores? Que bondade é essa que destrói um igual de vida?
– Nós não somos iguais a ti.
– Pode até ser, mas foi o Deus de “vois micê” que fala: “amai o próximo como a ti mesmo”.
V
Como não gosto de enrolar vou pular para quando os encontraram.
Era um dia bonito, Pedro e alguns capangas que já os procuravam há algumas semanas, encontraram-nos perto de um rio. Sem muita conversa o sinhozinho já ordenou:
– Levem-no para o tronco.
– Por quê? - perguntou a moça desesperada.
– Por te desapareceres por dias.
Ela ficou sem reação; Joaquim levou quinhentas chibatadas e morreu três dias depois.
Porém após sua morte o comportamento de Elisa mudou...
Muitos negros fugiram...
Agora tu verás minha primeira crônica. Na verdade era para ser um conto, porém uma ex-professora, que o corrigiu, me disse que era uma crônica. Quem sou para contestar?
Mijando nas Calças
Por fim, mostrarei não exatamente minha primeira poesia, mas uma delas, a escolhi por ser uma das mais razoáveis desta época.

Os três foram escritos no mesmo período, lia pouco, mas tinha muita coisa na cabeça. Os próximos trabalhos (semanalmente publicados) serão mais razoáveis. Prometo.

Um comentário:

  1. Laura Abbad24/10/09

    Olá! Parabenizo a idéia e a atitude, vou criar o hábito de passar sempre por aqui! bjo.

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