Aqui vai o primeiro conto que escrevi; logicamente já havia escrito coisas parecidas com contos durante minha vida estudantil em redações para escola. Porém este é o primeiro que fiz com a intenção de ser um conto. Confesso que não é lá grandes coisas, mas é meu.
Conto Primeiro
I
Normalmente, nas fazendas
de mil oitocentos e alguma coisa tem senzalas e uma “casa central”; na senzala
escravos e na casa os seus senhores. Correto?
A fazenda de que vou
falar não é diferente.
Nas senzalas, apesar das
condições precárias, os escravos tentavam manter suas crenças e tradições. Em
uma dessas senzalas sobrevivia um senhor conhecido como “ancião José”, o mais
velho de todos; era tão velho que não sabiam sua idade. Era ele o maior
responsável por passar para as gerações que vinham as tradições de sua terra
natal, pois era o único filho da África.
Ancião José tinha muitos
“netos”; o mais forte deles era Joaquim. Tinha lá seus vinte anos e adorava as
histórias de José; com elas se sentia livre. Ele nunca escondeu seus
sentimentos pelos brancos:
– Os odeio! São todos
ruins; nos prendem, nos maltratam, nos matam. Assim que puder fujo.
Na casa morava um jovem
casal. Ele chamava-se Pedro e tinha vinte e três anos; ela chamava-se Elisa e
tinha dezoito. Tinham ganhado a fazenda de presente de casamento.
Era um casal na medida do
possível feliz; e como todos os brancos da época não gostavam de negros. Ela
gostava menos ainda, pois seu pai havia sido morto por um negro fugitivo.
II
Num dia de outono, Elisa
iria passar um fim de semana na casa de sua mãe. Porém o escravo que guiava o
carro tinha caído doente.
– Precisamos de um
escravo de confiança, disse Pedro.
– Nenhum negro é
confiável, respondeu Elisa.
Pedro sabia que Joaquim
era um rapaz destemido e inteligente; tinha facilidade em aprender e
principalmente se destacava por ser um negro que questionava as suas condições.
Já tinha ido para o tronco varias vezes; era uma ameaça para Pedro, pois mais
cedo ou mais tarde poderia provocar uma fuga em massa. Para mantê-lo
longe, mesmo por alguns dias, o obrigou a levar Elisa.
Ainda no mesmo dia partiram;
eram um pouco mais de uma da tarde. Joaquim nunca havia saído da fazenda, mas
Pedro que não poderia ir, ensinou o caminho.
Chegando numa bifurcação
teve dúvida de por onde seguir. Apesar de receoso perguntou a sinhazinha:
– A senhora que já deve
ter vindo muito por aqui, deve saber o caminho, não sabe?
– Ora seu negro idiota! -
disse ela - Não sou eu que tenho que saber estes detalhes; simplesmente quero
chegar à casa de mamãe.
Mesmo com vontade de
matá-la, ele seguiu o caminho que lhe pareceu mais correto.
III
Com o passar do tempo
Joaquim percebeu que estava perdido numa floresta. Quando Elisa, também percebeu,
começou a agredi-lo verbalmente: “nego” cretino, imundo e idiota. Ele tentou manter
a calma, mas não conseguiu:
– Sua branquela nojenta!
Se não ficar quieta não vou conseguir tirar a gente daqui!
Estava escurecendo e
Joaquim achou melhor passar a noite no local para que de manhã pudessem
encontrar o caminho de volta. Elisa, com toda prepotência, relutou – Onde já se
viu uma sinhá dormir tão perto de um negro? – Mesmo assim tiveram que dormir
lá; ela no carro e ele no chão.
Ao amanhecer, Elisa
percebeu que Joaquim não estava perto dela; ficou com medo, mas logo ele
apareceu trazendo o que comer.
– Ainda bem que trouxeste
algo para comer, assim quem sabe te livras da chibata.
– E quem disse que é pra
“vois micê”?
– Pois se tu não me
alimentares mando-te a morte.
– Aqui “vois micê” não é
nada; se quiser comer se arranje sozinha, ou então, espere e veja se sobra
alguma coisa que peguei.
Antes de o sol chegar ao
centro do céu, começaram uma “fuga” sem rumo.
IV
Passaram-se alguns dias e
devido à situação inusitada os dois acabaram se aproximando e começaram a
cuidar um do outro, mesmo que não admitissem para si mesmo.
Em busca por água
aconteceu um acidente onde morreram os cavalos e perderam-se algumas das roupas
dela. Isso fez com que finalmente se respeitassem:
– Agora vejo que estava
errada - disse Elisa.
– Como assim? - indagou
Joaquim.
– Nem todo negro é ruim.
– É. Também penso eu
assim!
– Não entendi?
– Sempre pensei que um
branco jamais poderia ser bom.
– Mas os brancos são bons
e superiores.
– Bons? Superiores? Que
bondade é essa que destrói um igual de vida?
– Nós não somos iguais a
ti.
– Pode até ser, mas foi o
Deus de “vois micê” que fala: “amai o próximo como a ti mesmo”.
V
Como não gosto de enrolar
vou pular para quando os encontraram.
Era um dia bonito, Pedro
e alguns capangas que já os procuravam há algumas semanas, encontraram-nos
perto de um rio. Sem muita conversa o sinhozinho já ordenou:
– Levem-no para o tronco.
– Por quê? - perguntou a
moça desesperada.
– Por te desapareceres
por dias.
Ela ficou sem reação;
Joaquim levou quinhentas chibatadas e morreu três dias depois.
Porém após sua morte o
comportamento de Elisa mudou...
Muitos negros fugiram...
Agora tu verás minha primeira crônica. Na verdade era para ser um conto, porém uma ex-professora, que o corrigiu, me disse que era uma crônica. Quem sou para contestar?
Mijando nas Calças
Por fim, mostrarei não exatamente minha primeira poesia, mas uma delas, a escolhi por ser uma das mais razoáveis desta época.
Os três foram escritos no mesmo período, lia pouco, mas tinha muita coisa na cabeça. Os próximos trabalhos (semanalmente publicados) serão mais razoáveis. Prometo.
Olá! Parabenizo a idéia e a atitude, vou criar o hábito de passar sempre por aqui! bjo.
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